Classificação de Cônicas

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Classificação de Cônicas



    Definição: Uma cônica em R2R^2 é um conjunto de pontos cujas coordenadas, em relação à base canônica, satisfazem a equação geral:

Ax2+Bxy+Cy2+Dx+Ey+F=0Ax^2 + Bxy + Cy^2 + Dx + Ey + F = 0
onde A ou B ou C é diferente de zero. Ax2+Bxy+Cy2Ax^2 + Bxy + Cy^2 é a forma quadrática da cônica, Dx+EyDx + Ey a forma linear e F é o termo constante.

   Uma cônica pode ser classificada como: circunferência, elipse, parábola ou hipérbole. Dada uma equação na forma geral, estamos interessados em classificar qual é o tipo de cônica de modo a facilitar seu estudo e representação gráfica.


    Da Geometria Analítica sabemos que esses tipos de cônicas possuem equações na forma reduzida dadas por:

  • Equação reduzida da elipse, com centro na origem do sistema de coordenadas:

x2a2+y2b2=1\frac{x^2}{a^2} + \frac{y^2}{b^2} = 1
onde (±a,0)(\pm a, 0)(0,±b)(0, \pm b) são os vértices da elipse. Observe que uma circunferência é uma elipse onde a=b=ra = b = r, que é o raio da circunferência (x2+y2=r2)(x^2+y^2 = r^2).

  • Equação reduzida da parábola, com vértice na origem do sistema de coordenadas:

y2=4pxouy2=-4pxoux2=4pyoux2=-4pyy^2 = 4px \;\;\;\; ou \;\;\;\; y^2 = -4px \;\;\;\; ou \;\;\;\; x^2 = 4py \;\;\;\; ou \;\;\;\; x^2 = -4py
onde a primeira equação representa uma parábola com foco (p,0)(p, 0), a segunda com foco (-p,0)(-p,0), a terceira com foco (0,p)(0,p), e a quarta uma parábola com foco (0,-p)(0,-p).

  • Equação reduzida da hipérbole, com centro na origem do sistema de coordenadas:

x2a2-y2b2=1ou-x2a2+y2b2=1\frac{x^2}{a^2} - \frac{y^2}{b^2} = 1\;\;\;\;\;\; ou \;\;\;\;\;\; -\frac{x^2}{a^2} + \frac{y^2}{b^2} = 1
onde a primeira equação representa uma hipérbole com focos no eixo xx e vértices (±a,0)(\pm a, 0), e a segunda uma hipérbole com focos no eixo yy e vértices (0,±b)(0, \pm b).

    As equações das cônicas representadas acima estão na forma reduzida, onde temos B = 0, se A0A \neq 0, D = 0 e se C0C \neq 0, E = 0. Veremos que é possível, através de uma mudança de referencial conveniente, levar a equação geral de uma cônica até a forma reduzida, a fim de facilitar a sua classificação e estudo. Para isso utilizaremos conceitos de autovalores e autovetores, e a diagonalização de matrizes.

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    Exemplo 1: Considere a equação da cônica: x2+y2-6x-4y+9=0x^2 + y^2 - 6x - 4y + 9 = 0, em coordenadas canônicas do R2R^2. Esta equação não está na forma reduzida, e não sabemos definir qual é o tipo de cônica. Mas, podemos escrevê-la como:

x2+y2-6x-4y+9=x2-6x+(9-9)+y2-4y+(4-4)+9=0x^2 + y^2 - 6x - 4y + 9 = x^2 - 6x + (9 - 9) + y^2 - 4y + (4 - 4) + 9 = 0 \Rightarrow
(x-3)2+(y-2)2-9-4+9=0(x-3)2+(y-2)2=4\Rightarrow (x - 3)^2 + (y - 2)^2 - 9 - 4 + 9 = 0 \Rightarrow (x - 3)^2 + (y - 2)^2 = 4
Fazendo uma mudança de referencial da forma: x1=x-3x_1 = x - 3 e y1=y-2y_1 = y-2, obtemos:

x12+y12=4x_1^2 + y_1^2 = 4
E assim, podemos identificar a cônica como sendo uma circunferência de raio 2, centrada no ponto (3,2)(3,2), com relação ao referencial canônico xyxy.

ex1_conicas
A circunferência x2+y2-6x-4y+9=0x^2 + y^2 - 6x - 4y + 9 = 0 no referencial xyxy é a mesma circunferência x12+y12=4x_1^2 + y_1^2 = 4 no referencial x1y1x_1y_1.

    Esse é um exemplo simples no qual a equação da cônica não possuía o termo misto BxyBxy, ou seja, B = 0. Neste caso, a cônica está na forma reduzida em um referencial transladado em relação ao referencial canônico xyxy do R2R^2. Caso a equação da cônica possua o termo misto, ou seja, B0B \neq 0, a cônica estará também rotacionada com relação ao referencial canônico do R2R^2. Para classificar a cônica, precisamos inicialmente eliminar o termo misto. Faremos isso utilizando a diagonalização de matrizes.


    Considere a equação geral da cônica em coordenadas canônicas do R2R^2, dada por:

Ax2+Bxy+Cy2+Dx+Ey+F=0Ax^2 + Bxy + Cy^2 + Dx + Ey + F = 0
Para obter a cônica na forma reduzida em um outro referencial do R2R^2, procedemos da seguinte forma:

Passo 1: Escrevemos a equação da cônica na forma matricial:

[xy][AB2B2C][xy]+[DE][xy]+F=0\left[ \begin{array}{cc} x & y \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{cc} A & \frac{B}{2} \\ \frac{B}{2} & C \end{array}\right] \;\left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] + \left[ \begin{array}{cc} D & E \end{array}\right] \;\left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] + F = 0
Observe que se a matriz
M=[AB2B2C]M = \left[ \begin{array}{cc} A & \frac{B}{2} \\ \frac{B}{2} & C \end{array}\right]
for diagonal, teremos que B = 0 e assim eliminamos o termo misto BxyBxy da equação da cônica. Observe que a matriz M é sempre simétrica, o que implica que ela é sempre diagonalizável, por isso podemos utilizar a diagonalização para eliminar o termo misto da equação.

Passo 2: Diagonalizamos a matriz M para eliminar o termo misto, para isso precisamos encontrar os autovalores λ1\lambda_1λ2\lambda_2 e os autovetores  ortonormais vvww de M. Faremos então uma mudança de referencial, de modo a obter a equação da cônica com coordenadas em relação a um referencial cujos eixos são determinados pelos autovetores ortonormais da matriz M, ou geometricamente, um ponto P=(x,y)P = (x,y) representado no sistema canônico de base {(1,0),(0,1)}\left\lbrace (1,0), (0,1)\right\rbrace será representado no sistema de base {v,w}\left\lbrace v, w \right\rbrace, onde vvww são os autovetores ortonormais da matriz M, e serão os vetores diretores dos eixos da cônica. De acordo com o que é estudado em ortogonalização de Gram-Schmidt, sabemos que toda base pode ser ortonormalizada. Logo, se temos uma base formada por autovetores de uma matriz, esta base pode ser ortonormalizada.

Sabemos que a matriz M pode ser diagonalizada considerando como matriz diagonalizante U, a matriz cujas colunas são autovetores linearmente independentes de M e como matriz diagonal D, a matriz cujas entradas da diagonal são os autovalores de M:

U=[vw]eD=[λ100λ2]U = \left[ \begin{array}{cc} v & w \end{array}\right] \;\;\;\;\;\; e \;\;\;\;\;\; D = \left[ \begin{array}{cc} \lambda_1 & 0 \\ 0 & \lambda_2 \end{array}\right] 
Dessa forma, temos M=UDU-1D=U-1MUM = UDU^{-1} \Rightarrow D = U^{-1}MU.

Passo 3: Fazemos uma mudança de referencial. Considere a base canônica {(1,0),(0,1)}\left\lbrace (1,0), (0,1)\right\rbrace e a base {v,w}\left\lbrace v, w \right\rbrace. Observe que a matriz de mudança da base canônica para a nova base de autovetores é exatamente a matriz U. Além disso, a existência do termo misto indica que a cônica está rotacionada em relação aos eixos canônicos, e então, U é a matriz de rotação, isto é, a matriz U é sempre da forma:

U=[cos(θ)sen(θ)-sen(θ)cos(θ)]U = \left[ \begin{array}{rr} cos(\theta) & sen(\theta) \\ -sen(\theta) & cos(\theta) \end{array}\right]
onde θ\theta é o ângulo de rotação. Observe que UUt=UtU=I2U U^t = U^t U = I_2, uma vez que U é formado por vetores de uma base ortonormal, ou seja, U-1=UtU^{-1} = U^t. Assim, temos D=U-1MU=UtMUD = U^{-1}MU = U^tMU.

Um ponto (x,y)(x,y) no referencial canônico pode ser representado no novo referencial x1y1x_1y_1 da forma:

[xy]=U[x1y1][x1y1]=U-1[xy]\left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] = U \; \left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right] \Rightarrow \left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right] = U^{-1} \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right]
Assim, a forma quadrática da cônica fica:

[xy][AB2B2C][xy]=[x1y1]UT[AB2B2C]U[x1y1]=[x1y1][λ100λ2][x1y1]\left[ \begin{array}{cc} x & y \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{cc} A & \frac{B}{2} \\ \frac{B}{2} & C \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{cc} x_1 & y_1 \end{array}\right] \; U^T \; \left[ \begin{array}{cc} A & \frac{B}{2} \\ \frac{B}{2} & C \end{array}\right] \; U \; \left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{cc} x_1 & y_1 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{cc} \lambda_1 & 0 \\ 0 & \lambda_2 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right]
E a forma linear se reduz a:

[DE][xy]=[DE]U[x1y1]\left[ \begin{array}{cc} D & E \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{cc} D & E \end{array}\right] \; U \; \left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right]
Substituíndo na equação geral da cônica, obtemos sua equação na nova base de autovetores {v,w}\left\lbrace v, w\right\rbrace:

[x1y1][λ100λ2][x1y1]+[DE]U[x1y1]+F=0\left[ \begin{array}{cc} x_1 & y_1 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{cc} \lambda_1 & 0 \\ 0 & \lambda_2 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right] + \left[ \begin{array}{cc} D & E \end{array}\right] \; U \; \left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right] + F = 0
Nesta nova equação o termo misto não aparece e a classificação da cônica se torna mais simples.

Passo 4: Se a nova equação da cônica possuir ambos os termos, quadrático e linear, em x1x_1 ou em y1y_1, completamos o quadrado para cada um deles, a fim de juntar esses termos em um único termo com x1x_1 e um termo com y1y_1. Por fim, realizamos uma nova mudança de referencial conveniente, obtendo a equação da cônica na forma reduzida no novo referencial x2y2x_2y_2. E logo, podemos classificá-la e representá-la graficamente.

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    Exemplo 2: Considere a equação geral da cônica:

x2+y2-2xy+4x+4y-4=0x^2+y^2-2xy+4x+4y-4=0
Escrevendo esta equação na forma matricial, temos:

[xy][1-1-11][xy]+[44][xy]-4=0\left[ \begin{array}{cc} x & y \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{rr} 1 & -1 \\ -1 & 1 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] + \left[ \begin{array}{cc} 4 & 4 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] - 4 = 0
Vamos diagonalizar a matriz
M=[1-1-11]M = \left[ \begin{array}{rr} 1 & -1 \\ -1 & 1 \end{array}\right]
para eliminar o termo misto da equação. Para isso, encontramos os autovalores e autovetores de M. O polinômio característico de M é:

p(λ)=det(M-λI2)=|1-λ-1-11-λ|=(1-λ)2-1=λ2-2λp(\lambda) = det(M - \lambda I_2) = \left| \begin{array}{cc} 1-\lambda& -1 \\ -1 & 1-\lambda \end{array}\right| = (1-\lambda)^2 -1 = \lambda^2 -2\lambda
As raízes de p(λ)p(\lambda) são:

p(λ)=0λ2-2λ=0λ(λ-2)=0λ=2ouλ=0p(\lambda) = 0 \Leftrightarrow \lambda^2 -2\lambda = 0 \Leftrightarrow \lambda(\lambda - 2) = 0 \Leftrightarrow \lambda = 2 \;\; ou \;\; \lambda = 0
Portanto, λ1=2\lambda_1 = 2λ2=0\lambda_2 = 0 são os autovalores de M. Para λ1=2\lambda_1 = 2, temos que:

Mv=λ1v[1-1-11][v1v2]=λ1[v1v2][v1-v2-v1+v2]=[2v12v2]Mv = \lambda_1 v \Leftrightarrow \left[ \begin{array}{rr} 1 & -1 \\ -1 & 1 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} v_1 \\ v_2 \end{array}\right] = \lambda_1 \left[ \begin{array}{c} v_1 \\ v_2 \end{array}\right] \Leftrightarrow \left[ \begin{array}{r} v_1-v_2 \\ -v_1+v_2 \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{c} 2v_1 \\ 2v_2 \end{array}\right] \Leftrightarrow 
{v1-v2=2v1-v1+v2=2v2v2=-v1\Leftrightarrow \left\lbrace \begin{array}{r} v_1-v_2 = 2v_1\\ -v_1+v_2 = 2v_2 \end{array} \right. \Leftrightarrow v_2 = -v_1
Assim, os autovetores de M associados ao autovalor λ1\lambda_1 são da forma:

v=v1[1-1]v = v_1 \; \left[ \begin{array}{r} 1 \\ -1 \end{array}\right]
Um autovetor normalizado é:

v=[22-22]v = \left[ \begin{array}{r} \frac{\sqrt{2}}{2} \\ -\frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right]
Para o autovalor λ2=0\lambda_2 = 0, temos que:

Mv=λ1v[1-1-11][w1w2]=λ2[w1w2][w1-w2-w1+w2]=[00]Mv = \lambda_1 v \Leftrightarrow \left[ \begin{array}{rr} 1 & -1 \\ -1 & 1 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} w_1 \\ w_2 \end{array}\right] = \lambda_2 \;\left[ \begin{array}{c} w_1 \\ w_2 \end{array}\right] \Leftrightarrow \left[ \begin{array}{r} w_1-w_2 \\ -w_1+w_2 \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{c} 0 \\ 0 \end{array}\right] \Leftrightarrow
{w1-w2=0-w1+w2=0w2=w1\Leftrightarrow \left\lbrace \begin{array}{r} w_1-w_2 = 0\\ -w_1+w_2 = 0 \end{array} \right. \Leftrightarrow w_2 = w_1
Assim, os autovetores de M associados ao autovalor λ2=0\lambda_2 = 0 são da forma:

w=w1[11]w = w_1 \; \left[ \begin{array}{c} 1 \\ 1 \end{array}\right]
E um autovetor normalizado é:

w=[2222]w = \left[ \begin{array}{c} \frac{\sqrt{2}}{2}\\ \frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right]
Portanto, a matriz M pode ser diagonalizada, com U a matriz diagonalizante e D a matriz diagonal, dadas por:

U=[2222-2222]eD=[2000]U = \left[ \begin{array}{rr} \frac{\sqrt{2}}{2} & \frac{\sqrt{2}}{2}\\ -\frac{\sqrt{2}}{2} & \frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right] \;\;\;\;\;\; e \;\;\;\;\;\; D = \left[ \begin{array}{rr} 2 & 0\\ 0 & 0 \end{array}\right]
Dessa forma, temos que M=UDU-1D=U-1MU=UtMUM = UDU^{-1} \Rightarrow D = U^{-1}MU = U^tMU. Os autovetores vvww são vetores diretores dos eixos da cônica. Fazemos então uma mudança de coordenadas da base canônica do R2R^2 para a base {v,w}\left\lbrace v, w\right\rbrace . Observe que U é a matriz de mudança de base, e portanto é a matriz de rotação do novo referencial. Assim, temos:

{sinθ=22cosθ=22θ=π4\left\lbrace \begin{array}{c} \sin \theta = \frac{\sqrt{2}}{2} \\ \cos \theta = \frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right. \Rightarrow \theta = \frac{\pi}{4}
Isto é, a cônica está rotacionada de um ângulo θ=π4=45o\theta = \frac{\pi}{4} = 45^o, no sentido horário, com relação aos eixos canônicos.
Como U é a matriz de mudança da base canônica para a base {v,w}\left\lbrace v, w\right\rbrace, um elemento com coordenada (x1,y1)(x_1,y_1) na nova base é da forma:

[xy]=U[x1y1]\left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] = U \;\left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right]
Portanto, a forma quadrática da equação da cônica se torna:

[xy][1-1-11][xy]=[x1y1]Ut[1-1-11]U[x1y1]=\left[ \begin{array}{cc} x & y \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{rr} 1 & -1 \\ -1 & 1 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{cc} x_1 & y_1 \end{array}\right] \; U^t \; \left[ \begin{array}{rr} 1 & -1 \\ -1 & 1 \end{array}\right] \; U \; \left[ \begin{array}{c} x_1\\ y_1 \end{array}\right] =
=[x1y1][2000][x1y1]=2x12= \left[ \begin{array}{cc} x_1 & y_1 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{rr} 2 & 0 \\ 0 & 0 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x_1\\ y_1 \end{array}\right] = 2x_1^2
E a forma linear se torna:

[44][xy]=[44][2222-2222][x1y1]=[44][22x1+22y1-22x1+22y1]=\left[ \begin{array}{cc} 4 & 4 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{cc} 4 & 4 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{rr} \frac{\sqrt{2}}{2} & \frac{\sqrt{2}}{2}\\ -\frac{\sqrt{2}}{2} & \frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{cc} 4 & 4 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{rr} \frac{\sqrt{2}}{2}x_1 + \frac{\sqrt{2}}{2}y_1\\ -\frac{\sqrt{2}}{2}x_1 + \frac{\sqrt{2}}{2}y_1 \end{array}\right] =
=22x1+22y1-22x1+22y1=42y1= 2\sqrt{2}x_1 + 2\sqrt{2}y_1 - 2\sqrt{2}x_1 + 2\sqrt{2}y_1 = 4\sqrt{2}y_1
Logo, a equação da cônica no novo referencial fica:

2x12+42y1-4=0x12=-22y1+2x12=-22(y1-22)2x_1^2 + 4\sqrt{2}y_1 - 4 = 0 \Rightarrow x_1^2 = -2\sqrt{2}y_1 + 2 \Rightarrow x_1^2 = -2 \sqrt{2}\left( y_1 - \frac{\sqrt{2}}{2}\right)
Fazendo uma nova mudança de referencial x2=x1x_2 = x_1 e y2=y1-22y_2 = y_1 - \frac{\sqrt{2}}{2}. A equação se reduz a:

x22=-22y2x_2^2 = -2\sqrt{2}y_2
Portanto, podemos classificar a cônica como uma parábola. O foco da parábola no sistema de coordenadas x2y2x_2y_2 é (0,-22)\left( 0, -\frac{\sqrt{2}}{2}\right). E logo, no sistema x1y1x_1y_1 o foco é (0,0)(0,0) e portanto, no sistema xyxy o foco da parábola é a origem (0,0)(0,0). O vértice da parábola é a origem do sistema x2y2x_2y_2.

ex2_conicas
A cônica x2-2xy+4y2+4x+4y-4=0x^2 - 2xy + 4y^2 + 4x + 4y - 4 = 0 é uma parábola.


    Exemplo 3: Considere a cônica de equação geral:

5x2+6xy+5y2-4x+4y-4=05x^2 + 6xy + 5y^2 - 4x + 4y - 4 = 0
Escrevendo esta equação na forma matricial, temos:

[xy][5335][xy]+[-44][xy]-4=0\left[ \begin{array}{cc} x & y \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{rr} 5 & 3 \\ 3 & 5 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] + \left[ \begin{array}{cc} -4 & 4 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] - 4 = 0
Vamos diagonalizar a matriz

M=[5335]M = \left[ \begin{array}{rr} 5 & 3 \\ 3 & 5 \end{array}\right]

para eliminar o termo misto da equação. O polinômio característico de M é dado por:

p(λ)=det(M-λI2)=|5-λ335-λ|=(5-λ)2-9=λ2-10λ+16p(\lambda) = det(M - \lambda I_2) = \left| \begin{array}{cc} 5-\lambda & 3 \\ 3 & 5-\lambda \end{array}\right| = (5-\lambda)^2 -9 = \lambda^2 -10\lambda + 16
as raízes do polinômio característico são dadas por:

p(λ)=0λ2-10λ+16=0λ=10±362λ=2ouλ=8p(\lambda) = 0 \Leftrightarrow \lambda^2 - 10\lambda + 16 = 0 \Leftrightarrow \lambda = \frac{10 \pm \sqrt{36}}{2} \Rightarrow \lambda = 2 \;\; ou \;\; \lambda = 8
Assim, λ1=2\lambda_1 = 2λ2=8\lambda_2 = 8 são autovalores de M. Para o autovalor λ1\lambda_1, temos:

Mv=λ1v[5335][v1v2]=λ1[v1v2][5v1+3v23v1+5v2]=[2v12v2]Mv = \lambda_1 v \Leftrightarrow \left[ \begin{array}{rr} 5 & 3 \\ 3 & 5 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} v_1 \\ v_2 \end{array}\right] = \lambda_1 \left[ \begin{array}{c} v_1 \\ v_2 \end{array}\right] \Leftrightarrow \left[ \begin{array}{r} 5v_1+3v_2 \\ 3v_1+5v_2 \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{c} 2v_1 \\ 2v_2 \end{array}\right] \Leftrightarrow
{5v1+3v2=2v13v1+5v2=2v2v2=-v1\Leftrightarrow \left\lbrace \begin{array}{r} 5v_1+3v_2 = 2v_1\\ 3v_1+5v_2 = 2v_2 \end{array} \right. \Leftrightarrow v_2 = -v_1
Assim, os autovetores de M associados ao autovalor λ1=2\lambda_1 = 2 são da forma:

v=v1[1-1]v = v_1 \; \left[ \begin{array}{r} 1 \\ -1 \end{array}\right]

E um vetor normalizado é:

v=[22-22]v = \left[ \begin{array}{r} \frac{\sqrt{2}}{2} \\ -\frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right]
Para o autovalor λ2=8\lambda_2 = 8, temos:

Mw=λ2w[5335][w1w2]=λ2[w1w2][5w1+3w23w1+5w2]=[8w18w2]{5w1+3w2=8w13w1+5w2=8w2w2=w1Mw = \lambda_2 w \Leftrightarrow \left[ \begin{array}{rr} 5 & 3 \\ 3 & 5 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} w_1 \\ w_2 \end{array}\right] = \lambda_2 \left[ \begin{array}{c} w_1 \\ w_2 \end{array}\right] \Leftrightarrow \left[ \begin{array}{r} 5w_1+3w_2 \\ 3w_1+5w_2 \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{c} 8w_1 \\ 8w_2 \end{array}\right] \Leftrightarrow \left\lbrace \begin{array}{r} 5w_1+3w_2 = 8w_1\\ 3w_1+5w_2 = 8w_2 \end{array} \right. \Leftrightarrow w_2 = w_1
Assim, os autovetores de M associados ao autovalor λ2=2\lambda_2 = 2 são da forma:

w=w1[11]w = w_1 \; \left[ \begin{array}{r} 1 \\ 1 \end{array}\right]

E um vetor normalizado é:

w=[2222]w = \left[ \begin{array}{r} \frac{\sqrt{2}}{2} \\ \frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right]
Portanto, a matriz M é diagonalizável e temos U a matriz diagonalizante e D a matriz diagonal dadas por:

U=[2222-2222]eD=[2008]U = \left[ \begin{array}{rr} \frac{\sqrt{2}}{2} & \frac{\sqrt{2}}{2} \\ -\frac{\sqrt{2}}{2} & \frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right] \;\;\;\;\;\; e \;\;\;\;\;\; D = \left[ \begin{array}{cc} 2 & 0 \\ 0 & 8 \end{array}\right]
Temos A=UDU-1D=U-1AU=UtAUA = UDU^{-1} \Rightarrow D = U^{-1}AU = U^tAU. Vamos realizar uma mudança de referencial da base canônica do R2R^2 para a base de autovetores {(22,-22),(22,22)}\left\lbrace \left( \frac{\sqrt{2}}{2}, -\frac{\sqrt{2}}{2} \right), \left( \frac{\sqrt{2}}{2}, \frac{\sqrt{2}}{2} \right) \right\rbrace. A matriz U é a matriz que a realiza a mudança de base. Observe que os vetores dessa nova base são ortonormais e irão formar os eixos diretores da cônica. Esses eixos estão rotacionados com relação aos eixos canônicos, e U é a matriz de rotação. Assim, temos:

{sinθ=22cosθ=22θ=π4\left\lbrace \begin{array}{c} \sin{\theta} = \frac{\sqrt{2}}{2} \\ \cos{\theta} = \frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right. \Rightarrow \theta = \frac{\pi}{4}
Ou seja, a cônica está rotacionada de um ângulo θ=π4=45o\theta = \frac{\pi}{4} = 45^o, no sentido horário, com relação aos eixos canônicos.
Agora, como U é a matriz de mudança de base, um ponto (x1,y1)(x_1,y_1) no novo referencial é escrito como:

[xy]=U[x1y1]\left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] = U \; \left[ \begin{array}{c} x_1 \\ y_1 \end{array}\right]
Logo, substituíndo na forma quadrática da equação da cônica:

[xy][5335][xy]=[x1y1]Ut[5335]U[x1y1]=\left[ \begin{array}{cc} x & y \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{rr} 5 & 3 \\ 3 & 5 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{cc} x_1 & y_1 \end{array}\right] \; U^t \; \left[ \begin{array}{rr} 5 & 3 \\ 3 & 5 \end{array}\right] \; U \; \left[ \begin{array}{c} x_1\\ y_1 \end{array}\right] =
=[x1y1][2008][x1y1]=2x12+8y12= \left[ \begin{array}{cc} x_1 & y_1 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{rr} 2 & 0 \\ 0 & 8 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x_1\\ y_1 \end{array}\right] = 2x_1^2 + 8y_1^2
E na forma linear temos:

[-44][xy]=[-44][2222-2222][x1y1]=[-44][22x1+22y1-22x1+22y1]=\left[ \begin{array}{cc} -4 & 4 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x \\ y \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{cc} -4 & 4 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{rr} \frac{\sqrt{2}}{2} & \frac{\sqrt{2}}{2} \\ -\frac{\sqrt{2}}{2} & \frac{\sqrt{2}}{2} \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{c} x_1\\ y_1 \end{array}\right] = \left[ \begin{array}{cc} -4 & 4 \end{array}\right] \; \left[ \begin{array}{r} \frac{\sqrt{2}}{2}x_1 + \frac{\sqrt{2}}{2}y_1 \\ -\frac{\sqrt{2}}{2}x_1 + \frac{\sqrt{2}}{2}y_1 \end{array}\right] =
=-22x1-22y1-22x1+22y1=-42x1= -2\sqrt{2} x_1 -2\sqrt{2}y_1 -2\sqrt{2}x_1 + 2\sqrt{2}y_1 = -4\sqrt{2}x_1
Portanto, a equação da cônica no referencial x1y1x_1y_1 fica:

2x12+8y12-42x1-4=02x_1^2 + 8y_1^2 -4\sqrt{2}x_1 -4 = 0
Completando o quadrado para o termo em x1x_1 temos:

2x12-42x1=2(x12-22x1)=2(x12-22x1+2-2)=2((x1-2)2-2)=2x_1^2 - 4\sqrt{2}x_1 = 2 \left( x_1^2 - 2\sqrt{2}x_1\right) = 2 \left( x_1^2 - 2\sqrt{2}x_1 + 2 - 2\right) = 2 \left( \left( x_1 - \sqrt{2}\right)^2 - 2\right) =
=2(x1-2)2-4= 2 \left( x_1 - \sqrt{2}\right)^2 - 4
Fazendo uma nova mudança de referencial: x2=x1-2x_2 = x_1 - \sqrt{2} e y2=y1y_2 = y_1, e substituindo na equação da cônica, temos:

2x22+8y22=8x224+y22=12x_2^2 + 8y_2^2 = 8 \Rightarrow \frac{x_2^2}{4} + y_2^2 = 1
Portanto, podemos identificar a cônica como sendo uma elipse, com eixo maior igual a 2 e eixo menor igual a 1, rotacionada de um ângulo de 45o45^o no sentido horário e transladada uma distância 2\sqrt{2} em relação ao eixo x1x_1, cujo vetor diretor é v=(22,-22)v = \left( \frac{\sqrt{2}}{2}, -\frac{\sqrt{2}}{2}\right), logo, a elipse está centrada em (1,-1)(1,-1).

ex3_conicas
A cônica 5x2+6xy+5y2-4x+4y-4=05x^2 + 6xy + 5y^2 - 4x + 4y - 4 = 0 é uma elipse.


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Última Atualização: 27/07/2015.