Qual é o verdadeiro desafio na elaboração de um problema de matemática? Como transformar uma ideia simples em uma questão instigante, possível de resolver e, ao mesmo tempo, capaz de inspirar alunos? Foi essa provocação que o Laboratório de Ensino de Matemática (LEM) do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC), levou ao 8º Simpósio Nacional da Formação do Professor de Matemática, realizado entre os dias 25 e 28 de setembro de 2025, na Universidade de Brasília (UnB).
Organizado pela Associação Nacional dos Professores de Matemática na Educação Básica (ANPMat), em colaboração com o Ministério da Educação (MEC), o evento teve como tema “Dialogar sobre a Matemática para um Brasil Inclusivo: Currículo, Equidade e Neurociência”, reunindo docentes, pesquisadores e estudantes de todo o país para refletir sobre inovação e inclusão no ensino da matemática.
Entre palestras, minicursos e apresentações orais, o LEM destacou-se com a oficina “Criando Desafios: Metodologia de Elaboração de Problemas da Olimpíada de Matemática da Unicamp (OMU)”, coordenada pelo professor Giuliano Angelo Zugliani e pelos alunos Douglas Felipe Speck, Felipe Jardim Pinhati e Isabel dos Santos Fernandes.
O desafio de criar problemas matemáticos
Na oficina, professores e alunos interessados em olimpíadas matemáticas foram convidados a mergulhar no universo da criação de questões, desde a ideia inicial até sua formulação final. “A oficina consistiu em reunir professores e alunos interessados em olimpíadas, em particular no estilo de provas da OMU, para discutir o processo criativo de elaboração de questões: qual é a origem de uma questão nova, como sua escrita se desenvolve após a ideia inicial, tornando-a desafiadora, factível e atrativa”, explicam os organizadores.
Durante um encontro de quase quatro horas, os participantes acompanharam exemplos práticos e, na segunda metade, colocaram a mão na massa: em grupos, criaram e apresentaram suas próprias questões, orientados pela equipe do LEM. O resultado foi inspirador. “Tivemos nove participantes e, como resultado, três questões com início elaborado, sendo que uma, em particular, já chamou a atenção pela originalidade e evolução rápida. Todos os participantes foram ao quadro apresentar suas ideias”, destacam.
Metodologia e práticas para elaboração de questões
A proposta da oficina integra uma iniciativa mais ampla do LEM e da coordenação da OMU, que busca sistematizar o processo de criação de problemas. Segundo os organizadores do projeto, nas reuniões de elaboração das provas da OMU foram observados alguns padrões no processo pelo qual passam as questões selecionadas, o que motivou a realização dessa oficina como um projeto piloto para explorar e compreender melhor essas etapas.
Essas observações, quando traduzidas para uma metodologia, podem gerar pesquisas relevantes em nível de mestrado ou doutorado. “Dado que a OMU é feita em equipes e apresenta duas fases online, esse processo pode nos conduzir a uma metodologia que, por si só, já constitui um trabalho relevante”, afirmam.
Impactos e possibilidades
Após a boa recepção da oficina no Simpósio, a equipe do LEM tem expectativas de transformar o projeto em disciplina eletiva, iniciação científica ou dissertação no PROFMAT, fortalecendo a cultura de criação e experimentação no ensino da matemática. “Em paralelo, essa oficina, ou variantes dela, poderá ser oferecida novamente no LEM, sob demanda, ou em outros eventos. Ela será muito útil para a continuidade do processo de criação de questões da OMU”, completam.
O Laboratório, que já realiza projetos de extensão e atividades formativas, também ofereceu recentemente uma disciplina voltada à criação de atividades para a UNICAMP de Portas Abertas (UPA), com resultados considerados “extremamente positivos”.
Experimentação e colaboração
Mais do que ensinar conteúdos, o LEM propõe transformar a forma como se pensa e se produz matemática. A oficina apresentada na ANPMat reforça esse compromisso com a inovação pedagógica e o diálogo entre diferentes níveis de ensino. “Gostaríamos que os interessados nessa temática ou em áreas afins não hesitassem em procurar o LEM para trabalhar em projetos relacionados à produção para o ensino de matemática”, convidam os membros.
O Laboratório segue como um espaço de experimentação, colaboração e criação, oferecendo outros projetos com caráter de extensão.
- Contato: lem@unicamp.br
- Instagram: @instadolem
Outras participações
Além da oficina do LEM, o IMECC também marcou presença no simpósio com outras atividades de destaque.
O professor Marcelo Firer, acompanhado dos professores Rita Santos Guimarães (IME/USP) e Leonardo Barichello (IME/USP), coordenou a oficina “Situações Problema: Modelagem e Operação”, que discutiu diferentes abordagens para o uso da modelagem matemática em sala de aula.
O evento também contou com a participação de alunos do IMECC em comunicações orais que apresentaram resultados de pesquisas em diferentes frentes da educação matemática. Entre os trabalhos apresentados, destacam-se:
- “Pontos Notáveis e Triângulo Órtico: Potencializando a Resolução de Problemas Matemáticos”, de Isabel dos Santos Fernandes, Gabriela Bueno de Lima e Catarine Fernanda Lopes Oliveira;
- “Média Harmônica: Uma Abordagem Geométrica e Aplicações no Ensino Médio Técnico”, de Victor Rodrigues dos Passos;
- “Formação Continuada de Professores: Análise e Reflexões de Vídeos de Situações de Sala de Aula”, de Bruna Oliveira Falsoni.
- “Construindo Diagnósticos Adaptativos de Aritmética para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental”, de João Vitor Bazeto da Silva.
Além das comunicações, foi apresentado o relato de experiência intitulado “Experiência no Desenvolvimento de Materiais para o Estudo dos Algoritmos de Multiplicação e Divisão”, de Luis Antonio Kazutoshi Sakakisbara, Lana Pires Cancelli e Maria Luiza dos Santos Camargo.
Confira abaixo os registros do evento:





Por: Isabel Pennafirme Ferreira