Mais que livros: como os jogos estão remodelando a BIMECC

Iniciativa transforma a Biblioteca do IMECC em espaço de convivência, criatividade e bem-estar

Em um contexto acadêmico exigente como o do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da UNICAMP, um movimento está ganhando força: a revitalização da Biblioteca por meio dos jogos. 

A Biblioteca, inserida em um ambiente multidisciplinar e comprometida com o fortalecimento de sua atuação dentro da universidade, busca constantemente novas formas de apoiar o desenvolvimento acadêmico e pessoal dos estudantes. Para isso, vem remodelando seus serviços e adotando estratégias que promovam a socialização e a aproximação com seu público-alvo.

Nesse contexto, o projeto “Hora do Jogo na BIMECC” está transformando a biblioteca, reconhecida como espaço de estudo, pesquisa, produção de conhecimento e convivência, em um ponto de encontro dinâmico, onde o lazer e o aprendizado caminham lado a lado. 

 

Um novo fôlego pós-pandemia

A iniciativa nasceu em 2021, no contexto da retomada das atividades presenciais após o período mais crítico da pandemia de COVID-19. Naquele momento, a BIMECC enfrentava um esvaziamento. O espaço, antes movimentado, perdera parte de sua vitalidade. O desafio era evidente, como reconquistar o público e ressignificar a biblioteca, reafirmando seu papel como um espaço de estudo, pesquisa, convivência e produção de conhecimento?

Com esse objetivo, a equipe da BIMECC buscou identificar atividades desenvolvidas em outras bibliotecas universitárias. Entre os materiais encontrados, destacam-se relatos de experiências com o uso de jogos e quebra-cabeças, utilizados por essas instituições como estratégias para promover momentos de interação e bem-estar entre os usuários.

Na sequência, o projeto foi apresentado durante uma reunião da Câmara Consultiva Transdepartamental (CCT). Na ocasião, a então coordenadora do Laboratório de Ensino de Matemática (LEM), Profa. Laura Rifo, apresentou à equipe da BIMECC dois jogos desenvolvidos em projetos do laboratório: o NIM e o Semáforo. Como a implementação não envolvia custos, sendo necessário apenas imprimir, catalogar e disponibilizar os jogos, eles foram prontamente incorporados à proposta.

Algum tempo depois, a biblioteca recebeu uma nova doação: o jogo “Rei e Rainha da Derivada”, criado pelo Prof. Ricardo Fragelli, da Universidade de Brasília (UnB). A equipe da BIMECC, com apoio dos bolsistas, preparou um manual de instruções com base em um vídeo tutorial do próprio autor e passou a disponibilizar também esse jogo aos estudantes. 

A esses, somaram-se quebra-cabeças e jogos clássicos como Mega Milionário e Mundo Imobiliário, alguns adquiridos com recursos próprios das servidoras, outros por doação.

 

Espaço em transformação

O projeto “Hora do Jogo na BIMECC” acompanha uma tendência que vem ganhando força em instituições de ensino e pesquisa: a transformação do papel das bibliotecas. As bibliotecas se reinventam como centros de conhecimento, pesquisa e convivência. Com um perfil cada vez mais dinâmico e interativo, elas buscam dialogar com as novas gerações e ampliar sua presença na vida acadêmica, cultural e social da comunidade universitária. 

A proposta é ampliar o escopo de atuação, reconhecendo múltiplas formas de produção e circulação do conhecimento, inclusive aquelas mediadas pelo lazer e pela ludicidade, sem deixar de dar suporte ao ensino, pesquisa e extensão.

 

Jogos como aliados do bem-estar

Mais do que entretenimento, os jogos cumprem um papel estratégico dentro da universidade. Em um meio voltado às ciências, o estresse é uma realidade constante, especialmente nas áreas de exatas. “O jogo proporciona descanso mental, reforça a memória, estimula a originalidade e favorece o pensamento crítico”, destacam as servidoras da BIMECC.

É justamente com esse espírito que o projeto “Hora do Jogo na BIMECC” foi idealizado: fomentar a interação entre os alunos, oferecer momentos de lazer por meio de atividades que incentivam o raciocínio criativo, de forma leve e prazerosa, além de proporcionar um refúgio onde possam descansar a mente, desconectar-se brevemente das exigências acadêmicas e vivenciar momentos de descontração e imaginação.

Alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados à saúde mental, uma preocupação amplificada no período pós-pandemia, a iniciativa reconhece que cuidar da mente é parte essencial da vida universitária e que a biblioteca, enquanto instrumento público e educativo, tem um papel fundamental nesse cuidado.

Durante as férias de janeiro de 2025, a BIMECC lançou oficialmente o projeto. A biblioteca passou a receber não apenas estudantes do IMECC, mas também de outros institutos,  como do IEL (Instituto de Estudos da Linguagem), IFCH (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas) e IG (Instituto de Geociências), além de alunos do Colégio Técnico de Limeira (COTIL) e visitantes externos, todos atraídos pelos jogos disponíveis. No projeto piloto, foram registradas pelo menos 17 participações.

Entre os relatos marcantes, está o de uma aluna que contou ter procurado a BIMECC porque, em casa, não conseguia se concentrar nos estudos e atividades. Ao chegar, deparou-se com um dos quebra-cabeças e decidiu começar a montá-lo e, nos dias seguintes, retornou para continuar a atividade.

Outro quebra-cabeça acabou se transformando, espontaneamente, em uma atividade coletiva. Montado parcialmente sobre uma das mesas, atraiu a atenção de outros alunos, que, em momentos distintos, paravam para encaixar algumas peças. O que começou como um simples passatempo se revelou um ponto de interação, acolhimento e conexão entre estudantes.

 

Modelo replicável e de baixo custo

O funcionamento da iniciativa prima pela simplicidade e acessibilidade. Qualquer pessoa que passe pela biblioteca pode solicitar um jogo no balcão de atendimento. Não há burocracia: basta anotar o empréstimo e utilizar o material no próprio ambiente da biblioteca.

“Hoje, qualquer pessoa pode vir, pegar um jogo no balcão e se sentar para jogar. Se não terminar o quebra-cabeça em um dia, ele fica montado para quando a pessoa voltar ou para outros colaborarem”, contam.

A ação também serve de inspiração para outras bibliotecas da UNICAMP. Segundo as organizadoras, o custo inicial de um projeto semelhante é baixo. Muitas das primeiras aquisições vieram de doações. “Se a biblioteca não conseguir comprar, pode fazer uma campanha. Muita gente tem jogos em casa que poderia doar”, sugerem.

Com o tempo, à medida que a comunidade responde positivamente, é possível ampliar o acervo e os espaços dedicados ao lazer. A chave está na mobilização interna e no reconhecimento de que uma biblioteca pode  e deve  ser um espaço vivo.

 

Convite ao Jogo

Hoje, a BIMECC aguarda a chegada de novos jogos adquiridos oficialmente: xadrez, dominó, damas, jogo de cartas UNO e mais quebra-cabeças farão parte de seu acervo.

Para os estudantes da UNICAMP, servidores e visitantes em geral, o convite está feito: que tal uma pausa estratégica entre uma tarefa e outra?

A biblioteca está localizada no piso subsolo do prédio principal do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) da UNICAMP, e funciona das 08h30 às 22h45, de segunda a sexta-feira, com acesso gratuito e livre a toda a comunidade universitária.