Multiplicadores de Lagrange e Óptica Geométrica

Produção: Equipe do projeto PROIN/CAPES 2000
Coordenadora: Vera L.X. Figueiredo
Professoras: Margarida P. Mello e Sandra A. Santos
Alunos: Renato Cantão e Rodrigo Portugal
Criação: Rodrigo Portugal
Nível: Avançado
Palavras chaves: Otimização, curvas de nível, gradiente, multiplicadores de Lagrange e Óptica Geométrica.
Resumo: Neste módulo você vai estudar a geometria dos raios refletidos em um espelho qualquer. Para isso são introduzidos os conceitos do Princípio de Fermat e multiplicadores de Lagrange.
Um pouco de historia: A criação desta atividade tem como origem uma proposta da professora Vera em uma de nossas reuniões de avaliação semanais. A professora Vera propôs que os tutores imaginassem ou criassem atividades que expunham conteúdo de Cálculo (I ou II) mas que obrigatoriamente deveriam ser dinâmicas, isto é, deveriam conter animações e ilustrações. Ela chamou essa proposta de atividade dos sonhos. Nesta época, eu já estava tentando criar uma maneira de contar o que faço no meu doutorado usando apenas ferramentas de Cálculo. Sendo assim, a proposta da profa Vera chegou na hora certa para mim e decidi topar o desafio. Em tempo, faço doutorado na matemática aplicada e minha área de pesquisa é a sísmica de reflexão, que faz parte da geofísica matemática. A Óptica Geométrica serve como base para muitas teorias avançadas para o processamento de imagens da sub-superfície da Terra, isto é do fundo (mas não muito) da Terra. Por isso mesmo, esta teoria é tida como básica para todos que desejam trabalhar com o processamento sísmico. Fazendo uma analogia, como qualquer pessoa da área de exatas deve aprender Cálculo, qualquer um que trabalha com imageamento sísmico deve aprender a Óptica Geométrica (ou Teoria dos Raios).

Princípio de Fermat

PARTE I

Na Óptica Geométrica vale o Princípio de Fermat: A trajetória do raio que liga dois pontos é aquele que minimiza o tempo de percurso.

O problema que vamos explorar é encontrar o(s) ponto(s) no espelho onde ocorre(m) a reflexão de um raio. Para este problema, ainda vale o Princípio de Fermat, só que, neste caso, há a inclusão de um vínculo.

Matematicamente falando, o problema pode ser descrito como: procuramos os pontos estacionários do seguinte problema de minimização:

Minimizar T(x,y),
sujeito a h(x,y)=0,

onde a restrição ( ou vínculo) h(x,y)=0 pode ser interpretada fisicamente como: "o ponto (x,y) pertence ao espelho".

O primeiro algoritmo básico para achar o(s) ponto(s) do espelho onde há reflexão é:
Algoritmo I

  1. Para cada ponto no espelho: 1) construir os raios auxiliares (em azul) que fazem o trajeto: (fonte)-(ponto no espelho)-(observador); 2) Medir o tempo de percurso sobre cada raio auxiliar;
  2. Coletando todos os tempos de percurso, construir a curva verde, chamada curva de tempo de trânsito.
  3. Finalmente, achar os pontos estacionários desta curva.

A abordagem correspondente ao primeiro algoritmo é: quando possível, isolar y na restrição
h(x,y)=0, i.e.,

y = f(x),

substituir em T(x,y), gerando uma nova função de uma variãvel t=t(x)=T(x,f(x)), e, finalmente, achar os pontos críticos dessa nova função t(x).

Em seguida vamos aplicar o algoritmo em três exemplos.

Reflexão em espelho plano

exemplo I.1

exemplo 1 - espelho plano horizontal
Figura I.1
Exemplo do Algoritmo I sendo usado para a determinação do ponto de reflexão (M), do raio que sai da fonte (S), reflete no espelho e chega no receptor (G). O espelho é plano horizontal. Siga este link para visualizar o gif animado ou clique aqui para visualizar a animação
Explicação:
  1. Na Figura I.1, S=(0,0) é a fonte e G=(10,0) é o receptor.
  2. O espelho esta representado em cinza, e sua expressão matemática é h(x,y)=y+10.
  3. As linhas azuis são os raios auxiliares, construídos conforme o passo I do Algoritmo 1, descrito acima.
  4. Com auxilio dos raios azuis, a curva verde é construída, conforme passo 2 do Algoritmo I. Essa curva verde mede o tempo de percurso para cada raio auxiliar. Para ver a animação da construção da curva verde, clique na figura.
  5. O ponto M é, no espelho, onde ocorre o ponto de mínimo da curva de tempo de percurso. O ponto M é, portanto, o ponto onde ocorre a reflexão.

Reflexão em espelho plano inclinado

exemplo I.2

exemplo 2 - espelho plano inclinado
Figura I.2
Exemplo do Algoritmo I sendo usado para a determinação do ponto de reflexão (M), do raio que sai da fonte (S), reflete no espelho e chega no receptor (G). O espelho é um plano inclinado. Siga este link para visualizar o gif animado ou clique aqui para visualizar a animação
Observações:
  1. Na Figura I.2, S=(0,0) é a fonte e G=(10,0) é o receptor.
  2. O espelho esta representado em cinza, e sua expressão matemática é h(x,y)=y - x/3 + 10.
  3. As linhas azuis são os raios auxiliares, construídos conforme o passo I do Algoritmo 1, descrito acima.
  4. Com auxilio dos raios azuis, a curva verde é construída, conforme passo II do Algoritmo 1. Essa curva verde mede o tempo de percurso para cada raio auxiliar. Para ver a animação da construção da curva verde, clique na figura.
  5. O ponto M é, no espelho, onde ocorre o ponto de mínimo da curva de tempo de percurso. O ponto M é, portanto, o ponto onde ocorre a reflexão.

Reflexão em espelho qualquer

exemplo I.3

exemplo 1 - espelho qualquer
Figura I.3
Exemplo do Algoritmo I sendo usado para a determinação do ponto de reflexão (M), do raio que sai da fonte (S), reflete no espelho e chega no receptor (G). O espelho é não linear. Siga este link para visualizar o gif animado ou clique aqui para visualizar a animação
Observações:
  1. A fonte S esta em (-7,0) e o receptor G est· em (7,0) ;
  2. O expressão matemática do espelho é h(x,y)= y + 14 - 1.7*Sin(x/3) -(x/8)^2 ;
  3. Existem três pontos estacionários: dois mínimos locais e um máximo local;
  4. Cada ponto estacionario é um ponto de reflexão

Multiplicadores de Lagrange

PARTE II

Outra forma de se resolver o problema é utilizar o Teorema dos Multiplicadores de Lagrange, que diz: Nos problemas de minimização

Minimizar T(x,y),
sujeito a g(x,y)=0,

os pontos estacionários são aqueles que satisfazem a equação:

a grad(T) + b grad(h) =0

Isto é, nos pontos estacionários, o gradiente da função que se deseja minimar e o gradiente da restrição são linearmente dependentes. Isto equivale dizer que os gradientes são colineares nos pontos estacionários. Como os gradientes são ortogonais às curvas de nível, a equação acima se traduz em dizer que as curvas de nível se tangenciam nos pontos estacionários.

Baseado nos resultados do teorema, pode-se considerar um novo algoritmo:
Algoritmo II

  1. Para cada constante t0, construa a curva de nível T(x,y)=t0 (em azul);
  2. Achar os t0 para os quais as curvas de nível, h(x)=0 e T(x,y)=t0 se interceptam de maneira tangencial;
  3. Os pontos ondem ocorrem a tangência são pontos estacionários.

Reflexão em espelho plano

exemplo II.1

Figura II.1
Exemplo do Algoritmo II sendo usado para a determinação do ponto de reflexão (M), do raio que sai da fonte (S), reflete no espelho e chega no receptor (G). O espelho é plano horizontal. Siga este link para visualizar o gif animado ou clique aqui para visualizar a animação

Reflexão em espelho plano inclinado

exemplo II.2

Figura II.2
Exemplo do Algoritmo II sendo usado para a determinação do ponto de reflexão (M), do raio que sai da fonte (S), reflete no espelho e chega no receptor (G). O espelho é um plano inclinado. Siga este link para visualizar o gif animado ou clique aqui para visualizar a animação

Reflexão em espelho qualquer

exemplo II.3

Figura II.3
Exemplo do Algoritmo II sendo usado para a determinação do ponto de reflexão (M), do raio que sai da fonte (S), reflete no espelho e chega no receptor (G). O espelho é não linear. Siga este link para visualizar o gif animado ou clique aqui para visualizar a animação

Multiplicadores de Lagrange

PARTE III

Existe ainda uma terceiro modo de se determinar os pontos de reflexao usando o Teorema dos Multiplicadores de Lagrange. Sabemos que nos pontos estacionarios do problema, a equaçãão deve ser satisfeita

a grad(T) + b grad(h) =0

Portanto, podemos procurar, ao longo do refletor h(x)=0, pontos que satisfazem a equação acima. Essa ideia da origem ao nosso terceiro algoritmo
Algoritmo III
  1. para cada ponto xi do refletor h(x)=0, computar o gradiente grad(T) e grad(h);
  2. achar os pontos onde os gradientes sao colineares;
  3. esses pontos sao pontos estacionarios.

Reflexão em espelho plano

exemplo III.1

exemplo 1 - espelho plano horizontal

Figura III.1
Exemplo do Algoritmo III sendo usado para a determinação do ponto de reflexão (M), do raio que sai da fonte (S), reflete no espelho e chega no receptor (G). O espelho é plano horizontal. Siga este link para visualizar o gif animado ou clique aqui para visualizar a animação

Reflexão em espelho plano inclinado

exemplo III.2

Figura III.2
Exemplo do Algoritmo III sendo usado para a determinação do ponto de reflexão (M), do raio que sai da fonte (S), reflete no espelho e chega no receptor (G). O espelho é um plano inclinado. Siga este link para visualizar o gif animado ou clique aqui para visualizar a animação

Reflexão em espelho qualquer

exemplo III.3

Figura III.3
Exemplo do Algoritmo III sendo usado para a determinação do ponto de reflexão (M), do raio que sai da fonte (S), reflete no espelho e chega no receptor (G). O espelho é não linear. Siga este link para visualizar o gif animado ou clique aqui para visualizar a animação

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